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Empresa ficou endividada após rescisão de contratos com investigadas da Lava Jato

Companhia de infraestrutura para gestão de resíduos e saneamento em operação desde 1994, a Enfil contrariou a estatística com o encerramento de seu processo de recuperação judicial. Há cinco anos renegociando com credores e equilibrando as contas, a empresa — que chegou a ser citada na Lava Jato — conseguiu atravessar a reestruturação e gere atualmente cerca de R$ 1,5 bilhão em portfólio de projetos, com faturamento de R$ 160 milhões.

Para reestabelecer a confiança do mercado, a companhia estruturou um conselho de administração com a participação de dois membros independentes entre os sete assentos, trazendo o ex-CEO da Ambipar Leon Tondowski e o presidente do conselho da Eternit, Fausto de Andrade Ribeiro.

 

 

“A empresa saiu fortalecida desse processo”, diz Franco Tarabini, cofundador e presidente da Enfil. “O que a gente pretende agora é atacar os segmentos em que já somos fortes e diversificar melhor nosso portfólio de projetos. É uma empresa que pode ter faturamento bilionário no futuro, se trabalharmos bem.”

Estação de tratamento de água: Enfil constrói e reforma plantas para companhias como Sabesp e Cedae — Foto: Unsplash
Estação de tratamento de água: Enfil constrói e reforma plantas para companhias como Sabesp e Cedae — Foto: Unsplash

A Enfil constrói e reforma plantas de tratamento de água, resíduos industriais e controle de poluição atmosférica sob contrato, além de recuperar de áreas contaminadas. Hoje, a empresa atua principalmente com licitações em projetos com Sabesp, Cedae e Casan. Com um portfólio de clientes bastante concentrado em companhias de óleo e gás até 2014, a Enfil sofreu com a rescisão unilateral dos contratos de grupos investigados pela Lava Jato, incluindo a Petrobras.

 

 

Quando a estatal foi escrutinada na Justiça, o nome da Enfil apareceu entre um consórcio que teria ganhado licitação sem parecer jurídico — a companhia, no entanto, não foi indiciada, após esclarecimentos de um diretor da Petrobras. A Enfil também chegou a ser uma das principais credoras da OSX, do empresário Eike Batista. No auge, a companhia registrava receita de R$ 500 milhões.

“Estávamos realizando uma série de investimentos para entregar as obras e uma hora para a outra, paramos de receber. Foi um efeito dominó”, diz Tarabini. “Depois disso, o mercado ficou desaquecido. Não era nem opção queimar caixa para se recuperar.”

Quando o processo de recuperação judicial teve início, em 2018, a dívida da companhia com os bancos era de R$ 250 milhões. Hoje, ainda faltam ser pagos R$ 40 milhões, que a companhia deve liquidar em um prazo de sete anos. Os principais credores são BradescoSantander e Itaú.

Nesse meio tempo, Tarabini ainda teve o baque da morte dos outros dois cofundadores da Enfil. Juan Natali morreu em fevereiro de 2019, três meses antes da morte de Bolivar da Silva. Aos 70 anos, Tarabini prepara o filho, de 38, para uma possível sucessão, enquanto profissionaliza a gestão da companhia.

 

 

Depois de ter reduzido o quadro de funcionários de 350 para 30, a Enfil tem hoje 85 colaboradores. A empresa tem como meta encerrar o ano com R$ 1,5 bilhão em projetos contratados e aumentar em 65% o faturamento anual.

“A Enfil é um caso bem emblemático porque não só saiu da RJ como saiu bem. Quando precisou, fez o dever de casa, puxou o freio de mão e inclusive reduziu o operacional e administrativo, refizeram todo o custo da empresa”, diz Daniel Amaral, sócio do Dasa Advogados, que assessorou a reestruturação. “Esse caso é prova de que a recuperação judicial pode sim ser muito eficiente.”