Varejista enviará pedido de RJ na próxima semana; cenário é de apreensão entre funcionários
Funcionários da rede Ricardo Eletro estão assustados. Gerentes de diversas unidades localizadas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste comunicaram seus times de venda que suas lojas terão as atividades suspensas peremptoriamente num futuro próximo. Uma fonte ligada à Máquina de Vendas, holding que administra a varejista, confirma a situação. Serão ao menos 200 lojas desativadas nos próximos meses. Só em agosto mais de 100 unidades terão suas portas fechadas. Nas redes sociais, trabalhadores desligados nos últimos meses reclamam que a companhia não tem cumprido com o prazo dos pagamentos rescisórios. A situação é de apreensão na empresa.
Com mais de 70% de sua receita corroída devido às medidas de distanciamento social adotadas para conter a disseminação do novo coronavírus, a Ricardo Eletro se prepara para entrar com um pedido de recuperação judicial no valor de 3 bilhões de reais na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais, no Foro Central Cível de São Paulo. A informação foi antecipada por VEJA. Ainda se discute com advogados, no entanto, quem serão os principais credores, que irão fomentar o capital de giro de curto prazo após o pedido. Uma das consternações da Ricardo Eletro hoje é a dificuldade de ter acesso a crédito junto a bancos. Tamanho entrevero com instituições financeiras pode ser explicado pelo fato de a empresa ser acusada de sonegação de cerca de 400 milhões de reais à Receita Federal ao longo da última década.
Ao admitir o fechamento de lojas e a demissão de centenas de funcionários, a empresa apresenta uma contra-proposta para segurar seus maiores talentos. A aposta da varejista é que parte de seus funcionários seja mantida por meio do trabalho em regime de home office — em vez de itens físicos, o vendedor entraria em contato com sua carteira de consumidores para ofertar objetos à venda no e-commerce. “Estamos estudando um modelo que vai transformar o nosso vendedor em um parceiro de negócios, de forma que ele ganhe uma comissão maior e que a empresa não tenha mais que arcar com o custo fixo das lojas e dos funcionários. Vamos oferecer essa oportunidade para os melhores vendedores. Eles vão poder ganhar até três vezes mais em relação ao que ganham hoje. Estamos nos últimos ajustes de pontos jurídicos para apresentarmos esse modelo”, disse uma fonte ligada à varejista.
A empresa reconhece, ainda, que a pandemia de coronavírus dificultou o pagamento dos credores, sobretudo de funcionários que se desligaram nos últimos meses. Nas redes sociais da rede, trabalhadores que foram desligados recentemente reclamam não terem recebido o pagamento de suas multas contratuais. “Tem pessoas que saíram e que entraram na Justiça para receber seus direitos. Mas a empresa não tem participado das audiências. Os que conseguiram ganhar seus processos, receberam a informação de que a Justiça não está encontrando bens para bloquear e exigir o pagamento dos funcionários. É uma situação complicada. Não sabemos o que será do nosso futuro”, diz um funcionário de uma das operações da Ricardo Eletro no Paraná.
O cenário no curto prazo é de tempestade perfeita. A empresa encontra-se atualmente em recuperação extrajudicial, homologada pela Justiça em 2019. Na época, as dívidas eram estimadas em 2,5 bilhões de reais com fornecedores e bancos. O pedido foi feito após a empresa receber um aporte de 250 milhões de reais do fundo de private-equity Starboard, que está reestruturando a firma. A tendência, portanto, é que a grande capilaridade da rede, com lojas em 17 estados, seja aos poucos concentrada no e-commerce, canal de vendas que se sobressaiu nos últimos meses. Nos bastidores, fala-se que a crise da varejista se aflorou em janeiro, quando a empresa não conseguiu repor seus estoques devido à escassez de produtos provenientes da China. Ao que tudo indica, a péssima repercussão da recente apreensão do empresário Ricardo Nunes, fundador da rede, não será o único problema a ser administrado pela companhia nos próximos meses.