SÃO PAULO — Conhecida nacionalmente como a marca dos cigarrinhos de chocolate, a Pan deu início a um processo de recuperação judicial. O pedido foi aceito pela Justiça paulista neste mês. Segundo comunicado da empresa obtido pelo EXTRA, o objetivo da reestruturação com proteção judicial é amenizar os impactos econômicos causados pela pandemia, “permitindo que a empresa reorganize e reestrututure seus negócios”. O texto não informa o valor total das dívidas.
“A lógica da recuperação judicial tem como princípio a preservação da empresa para que, mantendo normalmente suas atividades, possa superar a crise econômico-financeira”, diz a nota assinada pelo “corpo diretivo” da empresa.
No ano passado, a Pan fez sua venda de ovos de Páscoa pelo whatsapp e pela loja de fábrica, localizada no prédio da empresa em São Caetano do Sul, no ABC Paulista. Este ano, o site da empresa informa que a loja de fábrica está fechada para reforma. Através do canal de mensagens instantâneas, a informação é a de que a empresa não vai oferecer produtos de Páscoa deste ano.
Problemas antes da pandemia
O advogado Roberval Pedrosa, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Laticínios e Alimentação de São Paulo, da subsede de São Caetano, informou que as dificuldades econômicas da Pan começaram ainda antes da pandemia. Pedrosa lembra que a empresa deixou de pagar aos trabalhadores demitidos, em novembro de 2019, as parcelas das verbas rescisórias.
— Na época, a empresa alegou que não tinha provisão de recursos. A Pan pediu uma audiência de conciliação, fechou um novo acordo com os demitidos, mas também não cumpriu. Pedimos na Justiça bloqueio de contas e penhora de faturamento. Mas, agora, com o pedido de recuperação judicial aceito, todas as execuções contra a empresa foram suspensas — diz o advogado, que cuida de 80 processos trabalhistas contra a Pan, totalizando dívidas de R$ 2,5 milhões.
Segundo o advogado, a administração judicial da Pan ficou sob a responsabilidade da empresa ARJ Administração Judicial, localizada em Sorocaba, interior de São Paulo.
O EXTRA tentou contato com a ARJ por telefone, mas as ligações caíam em mensagens que diziam que os números “não estão habilitados” para receber chamadas. Pelo celular, também nenhum representante da empresa foi encontrado para comentar a administração judicial da Pan.
A polêmica dos ‘cigarrinhos’
Com 86 anos de história, a Pan produz granulados para bolos, moedas de chocolate, chocolates diet, pão de mel com cobertura de chocolate ao leite e pipocas com cobertura de chocolate. A companhia também foi a criadora da bala paulistinha, inspirada na Revolução Constitucionalista de 1932.
Mas foram os ‘cigarrinhos’, criados na década de 1950 que tornaram a marca popular no país e anos depois viraram motivo de polêmica.
Em 1996, o Procon da cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, notificou a empresa para mudar a embalagem do produto, alegando que crianças poderiam ser induzidas ao tabagismo. A Pan mudou a designação do produto de ‘cigarrinhos’ para “rolinhos de chocolate ao leite” e depois para “chocolápis”.
Fundada em 1935 pelos engenheiros Aldo Aliberti e Oswaldo Falchero, o negócio familiar de chocolates, balas e doces foi adquirido em 2016 pelo Grupo Brasil Participações, que pretendia abrir franquias de cafeterias com a marca Pan e chegar a 300 unidades pelo país. Mas o plano não foi adiante.
Nenhum representante do Grupo Brasil Participações foi encontrado para comentar o pedido de recuperação judicial da empresa.