O último fim de semana escancarou o acirramento de ânimos entre bancos e a Americanas (AMER3), o que deixou o ativo ainda mais arriscado. As ações voltaram a desabar na última sessão, negociadas a R$ 1,94.
Após reunião na sexta entre a Americanas e os principais credores, a empresa foi à justiça e conseguiu uma proteção contra a execução de dívidas por 30 dias. Depois desse período, a varejista terá que decidir se entra em recuperação judicial.
Em contrapartida, o BTG Pactual protocolou uma ação contra a blindagem, acusando a empresa de agir de ‘má-fé’.
Após ter o pedido negado no domingo, o banco voltou a solicitar novo recurso nesta segunda.
Além do congelamento, o BTG foi obrigado a devolver R$ 1 bilhão que já havia sido executado.
Ainda segundo informações, os credores são contra a decisão da justiça porque isso diminui o poder de barganha nas rodadas de negociações.
O atrito entre credores e Americanas elevou as apostas de que o próximo passo é uma recuperação judicial, segundo especialistas ouvidos pelo Money Times.
Para um banqueiro, que não quis ser identificado, com uma capitalização próxima de R$ 15 bilhões a recuperação poderia ser evitada.
O valor está bem longe, porém, do que Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, acionistas referencia, ofereceram: R$ 6 bilhões. Segundo fontes, os bancos querem R$ 10 bilhões.
Flor da pele
Para Salvatore Milanese, sócio da Pantalica Partners e especialista em recuperação de empresas, o impacto desse tipo de notícia destrói a companhia do ponto de vista do consumidor. “Não é um setor que deveria ser colocado em recuperação judicial”, argumenta.
Em sua visão, para evitar o processo, “cada um precisa pagar o preço”.
“Os acionistas precisam colocar dinheiro e credores precisam alongar as dívidas, não cobrá-la, reduzir o impacto. Parece que se está se empurrando a empresa para a recuperação judicial porque os credores, legitimamente, mas não racionalmente, estão cobrando antecipações na justiça”, observa.
Já para o advogado Thomas Benes Felsberg, sócio-fundador do Felsberg Advogados e com experiência em processos de falência, tudo leva crer que a Americanas está “caminhando para uma recuperação judicial ou extrajudicial”.
Apesar disso, ele não vê a empresa entrando em falência.
“Eu acho que ela vai se recuperar. É uma empresa sólida, que tem potencial no mercado, tem reservas. Vai sofrer solavancos, talvez tenha que vender ativos, se capitalizar, mas não vejo Americanas falindo. Uma empresa desse porte depende de fluxo de caixa e o fluxo de caixa dela é bom”, discorre.
Já um banqueiro ouvido pela reportagem disse que a única saída é uma megacapitalização por parte dos acionistas controladores, “responsáveis diretos por esse rombo histórico”.
“Sem isso a empresa vai à falência”, completou.
Para a XP, dado o tamanho da dívida da Americanas e da potencial necessidade de capital, além do número de credores envolvidos, a alternativa mais provável é a recuperação judicial.
Pelos cálculos dos analistas Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt, o montante da oferta de ações deveria ser de R$ 12 bilhões a R$ 21 bilhões.
E se a Americanas solicitar recuperação judicial?
A corretora elencou quatro consequências caso a empresa decida realizar uma recuperação judicial.
Os analistas recordam ser um processo longo, com duração média de três anos, mas excedendo esse prazo em muitos casos — a Oi (OIBR3), o maior caso de recuperação judicial do Brasil, demorou seis anos.
Outra consequência seria a saída do Ibovespa, já que de acordo com a metodologia da B3, as companhias em RJ não são elegíveis para entrar no índice, o que pode impactar negativamente a liquidez da varejista.
Além disso, segundo os analistas, as ações tendem a sofrer com a volatilidade durante processos de recuperação judicial, uma vez que as medidas são focadas nos credores e são geralmente diluitivas aos acionistas.
Entre as soluções para a saída do processo estão o desinvestimento de ativos, renegociação de dívidas, conversões de dívidas em ações e aumento de capital.
A Natural da Terra, hortifrúti comprada pela Americanas em 2021, e a rede Vem Conveniência, joint venture com a Vibra (VBBR3), estão entre os ativos que podem ser vendidos, segundo informações do Valor Econômico.