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Tricolor diminui os descontos para até 50% e promete pagamento da dívida de R$ 119,4 milhões em 10 anos. Paraná coloca sub-sede como “proteção” aos 428 credores

Os credores do Paraná Clube aprovaram o novo plano da recuperação judicial (RJ) para o pagamento das dívidas, na tarde desta segunda-feira, com mais de 70% dos votos. Após reclamação na primeira assembleiao Tricolor ofereceu descontos e prazos menores e a sub-sede da Kennedy, local da votação, como garantia.

O encontro foi determinado pela 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de Curitiba, que tem até 30 dias para homologação do acordo. A proposta paranista, refeita no começo de junho, é de deságios de 11,5%, 38,5% e 49,8%.

Paraná, assim, evitou uma eventual decretação da falência. Esse era o próximo passo em caso de negativa dos credores.

ge entrou em contato com o administrador judicial, Maurício Obladen, o mesmo da RJ do Coritiba, que confirmou a aprovação.

Atualmente, o Paraná divide o débito de R$ 119,4 milhões na RJ em três grupos: 361 como trabalhista, 52 no quirografários e oito entre Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP). Ao todo, são 428 credores.

  • Trabalhista: R$ 59,5 milhões – 49,8% de desconto
  • Quirografários: R$ 46 milhões – 38,58% de desconto
  • ME e EPP: R$ 13,7 milhões – 11,5% de desconto

 

Os créditos até R$ 198 mil, por exemplo, seriam pagos em até um ano com 38,5% de desconto. O mesmo aconteceria com os credores acima deste valor, mas também receberiam R$ 181,8 mil no mesmo período. Ambos estão inclusos na Classe I.

Já a Classe III, dos quirografários, prevê um desconto de 49,8%, com pagamento de parcela única por 10 temporadas. A primeira parcela seria paga somente um ano e meio depois da aprovação e homologação da RJ em assembleia. A última classe, IV, tem o mesmo planejamento dos quirografários e envolve EPP e ME.

Outra grande mudança é a entrada da Kennedy como garantia de pagamento. Esse era o pedido de um grupo de credores, que cobrava uma solução com poder público para ceder o patrimônio em troca de cotas (potencial construtivo) para venda no mercado. O Athletico fez algo semelhante na construção da Arena da Baixada para a Copa do Mundo de 2014.

Por ser doado pelo município ao EC Água Verde, que depois virou Pinheiros, dois dos sete clubes de origem do Paraná, o imóvel não pode ser negociado. De acordo com a lei municipal nº 1550/1958, do então prefeito Ney Braga, o patrimônio não poderia ser vendido ou leiloado para pagamento de dívidas por ter fins de lazer e recreação esportiva.

A sede social até chegou a ir a leilão, mas não obteve nenhum lance nos dois pregões de março de 2021. A 15ª Vara Federal de Curitiba determinou o leilão pela dívida de R$ 35 milhões com o Bacen (Banco Central do Brasil).

Quatro meses depois, a Justiça cancelou a terceira tentativa de leilão devido à aprovação da recuperação judicial, em julho de 2022. O cenário é parecido com a sub-sede do Boqueirão, que foi arrematada por R$ 9 milhões em 2018 e teve seu pregão cancelado no final de julho por também ter sido doado pela prefeitura ao Tricolor, o que o deixaria impenhorável.

Vale lembrar que parte da Kennedy é arrendada pelo Espaço Torres desde 2012 para eventos nos salões. A parcela única de R$ 1 milhão é válida até 2032.

De acordo com avaliações judiciais, a Kennedy tem o valor de R$ 88 milhões.

Na primeira assembleia, o clube tinha colocado descontos de 90% a 92% para pagar o débito de R$ 119,4 milhões em 16 anos. Com a negativa, o Paraná prometeu melhorar as condições para evitar a falência.

Na deliberação, o Paraná alegou que possui conversas com investidores para a venda da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e que uma negociação concretizada melhora a situação financeira. Já os credores cobraram as cartas de intenção dos supostos interessados para a assembleia de 12 de junho.

Dentro do processo, o Paraná citou que possui uma renda mensal de R$ 304 mil vinda de patrocinadores, bilheteria do estádio e o programa de sócio-torcedores, entre outros. A cúpula paranista alegou que “possui todas as condições e possibilidades de se reerguer (seja pela via recuperacional ou até por investidores)”.

O cenário da época, entretanto, era diferente do atual. Em crise constante, o Tricolor foi rebaixado no Campeonato Paranaense do ano passado e não conquistou o acesso na Série D em 2022. Assim, o Tricolor não tem calendário nacional pela primeira vez na história a partir de 2023.

A única competição do time paranista é a Divisão de Acesso, que começou no final de abril. O clube ainda perdeu cinco perdas de mando por invasão da torcida na partida do rebaixamento, o que impede ganhos com bilheteria.

Por outro lado, o Paraná tem anunciado diversos patrocinadores para estampar na camisa – um deles uma casa de “entretenimento adulto”, que gerou revolta de parte da torcida. Já o movimento “PRa cima, Paraná” tem tentado vender cotas para torcedores, conselheiros e ex-dirigentes para arrecadar valores.

Em campo, o Tricolor é o sexto colocado na Segunda Divisão, com 10 pontos em sete jogos – quatro avançam para a semifinal e dois sobem.

De acordo com o balanço financeiro de 2022, a dívida total do Tricolor é de R$ 156,3 milhões. O prejuízo no ano passado foi de R$ 823 mil.

 

Vale destacar que a recuperação judicial engloba as quantias trabalhistas e cíveis – o débito desses segmentos, por enquanto, é de R$ 92,7 milhões.

  • Fiscal: R$ 8,9 milhões
  • Trabalhista: R$ 37,5 milhões
  • Cível: R$ 55 milhões