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Saraiva finalmente conseguiu aprovar aditivo em plano de recuperação judicial; apesar disso, situação da empresa ainda é delicada

Saraiva vinha adiando a execução de uma assembleia com credores desde novembro de 2021, mas, nesta segunda-feira (7), o evento foi finalmente realizado. Nele, a companhia conseguiu aprovar um aditivo que dá mais fôlego ao seu dramático processo de recuperação judicial.

Loja da Saraiva em shopping (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
Loja da Saraiva em shopping (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

As ações da Saraiva seguem um movimento de alta desde a semana passada, quando os sinais de que o aditivo seria aprovado ficaram fortes. Só nesta segunda-feira, houve uma valorização de aproximadamente 30%.

Por que tamanha empolgação, por assim dizer? Para começar, o aditivo permitirá à Saraiva formar uma unidade produtiva isolada (UPI) baseada no Shopping Ibirapuera, em São Paulo (SP).

UPIs são mecanismos relativamente comuns em planos de recuperação judicial. Basicamente, o conceito descreve a formação de um conjunto de ativos físicos (como equipamentos) e intangíveis (como marcas) que pode ser transferido para outro titular de modo a permitir pagamentos parciais ou totais a credores e, ao mesmo tempo, a manutenção do negócio.

Não por acaso, uma outra UPI, esta baseada em direitos creditórios, será vendida para o seu valor ser usado na quitação de dívidas trabalhistas.

Em grande parte, a aprovação do aditivo foi possível por causa da decisão do Banco do Brasil — um dos maiores credores da Saraiva — de passar o seu crédito de cerca de R$ 120 milhões para o fundo de investimento Travessia.

Por questões de compliance (normas de integridade corporativa), a instituição bancária não poderia votar em favor da aprovação do aditivo, situação que, muito provavelmente, levaria à Saraiva à falência. Ao assumir o crédito, o fundo Travessia votou a favor na assembleia, cenário que permite à livraria continuar na ativa.

Entre os credores que votaram contra estão editoras, por razões compreensíveis: se o aditivo passar por homologação judicial (a última etapa restante), os credores terão que decidir entre um deságio (desconto) de 80% do valor a receber e o pagamento do montante que restar em ações; ou receber o valor sem deságio, mas com prestações a serem pagas até 2048 e com início daqui a cinco anos.

A Saraiva abriu um pedido de recuperação judicial em outubro de 2018. Na ocasião, a companhia declarou ter dívidas que somavam R$ 675 milhões. Por causa de uma série de entraves, principalmente questionamentos feitos por credores, o plano de recuperação só foi homologado em setembro de 2019.

Como a situação não melhorou nos meses seguintes, a Saraiva pediu um aditamento em seu plano de recuperação judicial. O ajuste só foi aprovado em fevereiro de 2021 pelos credores. Nos meses seguintes, a companhia tentou vender lojas físicas e sua plataforma de comércio eletrônico por três vezes, mas não houve interessados.

Desde então, a companhia vinha tentando aprovar mais uma mudança em seu plano de recuperação, o que aconteceu hoje graças ao sinal verde de mais de 70% dos credores.

Apesar disso, a situação da companhia ainda é delicada. Os detalhes são explicados no especial A decadência da Saraiva: de maior livraria do Brasil à luta para não falir.